27.2.09

Enquanto o destino compõe seu enredo

Quando em mim se projetar o claro lume
Vindo da tua boca em sorriso níveo,
Hei de lançar-me do alto do impossível
E inebriar-me no olor do teu perfume.

Não necessariamente o afã do desejo;
Talvez, somente, tímido diálogo
Irá, aos poucos, consumando o epílogo
Do esperar esse desejado ensejo.

Sei que existe um misto de ansiedade e medo.
Sei também que há um ímpeto travado.
Sobremaneira há profundo respeito.

Enquanto o destino compõe seu enredo,
Sigo compondo meu soneto, calado;
Gritando bem alto o que vai em meu peito.



Frederico Salvo
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25.2.09

O Amor

Permita-me dizer uma coisa:
Ninguém pode ficar imune
De pisar no barro; Nem ficar impune
Por morder a isca boa do pecado
E deixar de lado aquilo que redime
Tudo que ofusca esse claro lume.
Pois a vida é mais do que sublime
E guarda, intermitente, o cheiro do perfume
Que a tudo suaviza,
Mas que ao ficar de lado
(álcool destampado),
Ligeiramente, volatiliza.


Frederico Salvo
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23.2.09

O que move a humanidade?

Dizem que o que move a humanidade
Em sua história por esta terra,
É lutar contra a efemeridade,
Decretar fim ao fim que ela encerra.

Não seria, de fato, a preguiça,
Mãe da transformação inaudita?
Essa infame pecante, mundiça,
Teria sido grande e expedita?

Por exemplo: Não seria a flecha,
Ao atingir a caça, uma brecha
Contra a trabalheira do confronto?

Do pincel ao conforto da foto;
Sem falar do controle remoto:
Vemos tudo... sem sair do ponto.


PS.: Soneto que teve como fonte de inspiração o texto " O que move a humanidade" de Luís Fernando Veríssimo." http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1654244.xml&template=3916.dwt&edition=8652&section=812


Frederico Salvo
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22.2.09

Soneto da noite chuvosa

Sinta! Escuta o burburinho da chuva
Que lá fora, fria, vem ao chão.
Vê o clarão rasgando a escuridão
Que a imagem, outrora bem nítida, turva.

Sinta o cheiro da terra molhada
Na brisa que vem pela fresta.
Sinta tudo ao redor em festa,
No farto seio da madrugada.

Não há monstros, nem bruxas, nem nada.
É somente uma noite chuvosa
No findar da quente temporada.

Deixa disso. Não fique medrosa.
Nem tampouco assim assustada.
É só chuva. Criança formosa!


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra

21.2.09

Mares

Esvaem-se as águas contidas
Ao abrirem-se as comportas.
Ligeiras procuram o melhor trajeto;
Não se norteiam pelo que não seja o óbvio.
Vão de encontro ao que as chama:
O mar; Derradeiro destino.

Também as notas do piano,
Uma a uma se juntando,
Vão formando a melodia.
Outras tantas as apóiam
Harmoniosamente,
Num invisível caminho.
Sozinhas são nada;
Unidas são música:
Mar da sonoridade.

Nós, egoístas, ainda dispersos vagamos.
Nossas vertentes vão se perdendo em si mesmas,
Sem rumo, a esmo.
Algo sutilmente clama distante;
A pequenina chama
Bruxuleia inutilmente.

E o nosso mar vai secando,
Mar do amor se acabando;
Morrendo;
Deserticamente.



Frederico Salvo
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20.2.09

Desejo contido

Quisera eu encontrá-la risonha
E finalmente poder abraçá-la;
Sentir ardente na boca que cala
O beijo entregue àquele que sonha

Com seus seios, belíssimas montanhas;
Com seu colo, cálido travesseiro.
Num arrepio envolvente e ligeiro
Todo universo nas minhas entranhas.

Dê-me seu sumo, fruta temporona;
Lança seu faro, fera perdigueira.
Torna tudo ao redor interrompido.

Dê-se inteira, relaxa, tenciona,
Seja a minha ou a sua maneira
Faça liberto o desejo contido.


Frederico Salvo
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19.2.09

Pegadas

Flores inodoras pelo caminho
Compõem a confusa paisagem.
Teu rastro torna os sabores insossos.
Vilipendiaram o ninho dos meus sonhos
E agora eu sigo farejando teus passos
Sem sentir o cheiro das flores.
Uma viseira restringe o campo da minha visão
E eu vejo somente tuas pegadas.
O azul do horizonte é apenas um vão
Entre as paredes escuras que me cercam.
Outrora convivi contigo.
Pouco sabia sobre ti,
Mas sentia tua presença ao meio-dia,
No aroma dos pratos caseiros.
Ou ao cair da tarde,
No cheiro da terra molhada pela chuva.
Ouvia teu riso puro
Misturar-se a outros risos familiares.
Eras a sutileza escondida em meus passos.
Só hoje percebo que estiveste ali.
Umas vezes mais, outras menos,
Mas estiveste.
Agora, fugidia, tu te anulas
E eu fico a farejar-te o rastro.
Ainda sinto que sou aquele menino
Que brincava sob teu olhar sereno.
Mas de ti, apesar de chamar-te tanto,
Já não sei dizer ao certo
Se ainda és felicidade.


Frederico Salvo
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18.2.09

Ainda há tempo

Aquilo que vai de mais intenso em tua alma,
Que tem para ti um significado inefável,
Poderá se extinguir dessa forma inexplicável,
À mingua, longe do calor da tua palma?

Tua vida perderá o brilho, meu amigo;
Haverá de ter teus dias um sabor amargo.
Não podes esquecer assim esse belo encargo,
Deixar às moscas o que sempre foi teu abrigo.

Então arregaça as mangas pois ainda há tempo.
Não se diz num ditado que quem semeia vento
Acaba, adiante, colhendo tempestade?

Se deixares de plantar esse teu sonho agora,
Caminharás vazio por tua vida afora;
Deixarás morrer, esquecida, a tua verdade.



Frederico Salvo
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17.2.09

Voz

Recebem martelo, estribo e bigorna
O estímulo da tua voz suave
Que passeia por meu sistema nervoso
E chega à musculatura involuntária dos meus pêlos.
Arrepio.

Frederico Salvo
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16.2.09

Porto seguro

Sou a nau que singra o oceano dos sonhos,
Enfrentando calmarias e procelas;
Vi tantos arrebóis, tanto içar de velas;
As brisas leves, os vendavais medonhos.

Transpus vagas que julgara intransponíveis,
Acabei ileso ao ardil dos corsários
Astutos, loucos, vilões e mercenários;
Sorrisos dourados, faces irascíveis.

Um dia, já quase à beira de um naufrágio,
Depois de farta e bravia tempestade,
Faltou coragem; temi pelo futuro.

Pequenina chama semovente e frágil
Recebi da sorte em sopro de bondade,
Encontrando em ti o meu porto seguro.



Frederico Salvo
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15.2.09

Tom (Ao maestro Tom Jobim)

Salta aos ouvidos beleza infinita
De indescritível força e que habita
As frases das tuas composições
Sejam elas, sambas, bossas ou canções.

D’onde virá essa trama perfeita
Que em sublime harmonia se deita
E transpassa meu espírito mudo
Por um prazer infinito, absurdo?

Tua música vai de Alfa a Ômega,
Sacia a alma que vaga sôfrega
Numa estrada linda e que não tem mais fim.

Casa onde o amor e a natureza gritam,
Onde sutileza e graça se explicam:
Antônio Carlos Brasileiro Jobim.


Frederico Salvo
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14.2.09

Linha e agulha

Eu não tenho dúvidas, amor...
De que tudo o que houve foi sonho.
Os desejos, os erros, as conquistas...
Tudo foi costurado à linha do tempo,
Tendo como agulha essa quimera
A romper o tecido da vida e a puxar,
A reboque de si, tudo o que somos.


Frederico Salvo
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13.2.09

Soneto inacabado

De maneira que me encontro assim:
Sou um soneto inacabado.
Sou um texto que chegando ao fim,
Teima feito burro empacado.

Cheguei até aqui com louvor,
Mescla de métrica e lírica;
Mas por não encontrar o amor,
Tropeço de forma satírica.

Onde estará esse poeta?
Ergueu parede sem reboco,
Deixou intacta sua meta.

Faz-se surdo à minha súplica,
Trancou-se de forma hermética;
Faleceu? Ah! Tornou-se oco?

Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

12.2.09

Apenas um toque

A mão solta, vazia;
O espírito vago.
A sensação solitária de ser
Permeando de angústia o peito.
Um toque; Apenas um toque.
Isso dá jeito.
Quero o calor da tua mão em minha mão
Para que meus neurônios
Encaminhem ao meu cérebro
A sublime mensagem.
Quero no futuro, no presente,
No pretérito perfeito.

Vive-se por isso,
Sem saber que assim é.
Muitos não sabem. Evitam.
E a guerra se faz por falta do toque.
E o ódio se dá por falta do toque.
E a indiferença anseia o toque
Disfarçada de forte.
Quero o calor da tua mão em minha mão
Para que meus neurônios
Encaminhem ao meu cérebro
A sublime mensagem.
Quero no sul, no oeste, no leste, no norte.
Quero por toda vida;
Quero na hora da morte.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

11.2.09

Pistas do passado

Há algum tempo é desejo meu postar aqui, também, um outro tipo de atividade que gosto e que sobremaneira traz indizível prazer a minha alma. A partir desse primeiro, pretendo postar aqui outros desenhos que fiz e que a mim representam muito. Sob às palavras da minha estimada amiga Márcia Oliveira que carinhosamente dedicou-me o texto e o poema abaixo, compartilho com todos vocês, que me deram o prazer dessa visita, um pouco dessa faceta que para mim é fonte de inigualável contentamento.



Caríssimos leitores,

Reproduzir algumas imagens que lhe dão sentimento de valor é mais uma das habilidades do meu amigo Fred.

Cantor, compositor e poeta, eterniza em traços simples, porém hábeis, paisagens e monumentos fascinantes. Às vezes um rochedo, às vezes frágil, verseja em traços harmoniosos uma linha de horizonte perfeita o que faz do resultado, um sentimento imprevisível à visão de cada pessoa.

Tristeza ou alegria, dor ou contentamento, solidão quem sabe, se escondem nesses relevos.

Numa simplicidade que vem de dentro pra fora, utiliza o grafite, dessa vez para nos presentear com imagens que transcendem o encanto da vida, onde foram depositadas esperanças e sonhos inconcessos, onde é possível sentir, muitas vezes como navalha afiada, todo o sacrifício de um povo ensaiando o futuro, na construção do passado.

Nas perspectivas, nos sombreados, na ausência de cores, nas diferentes nuances, poetou em traços a alma dos fortes, recolhida na imensidão dos casarões, nas imagens de templos construídos por um povo cuja fé, alicerçada no sentimento de liberdade, nos contagia até hoje e nos é revivida através das reproduções feitas por esse poeta devoto e disciplinado.

É, sem dúvida, mais uma faceta desse amigo tão querido que me dá, apesar da redundância, a certeza absoluta de que é um artista talentoso, ímpar, versátil e merecedor de aplausos sinceros.

Escolhi, dentro desta galeria, uma de suas reproduções e arrisco com extrema ousadia, já que não sou poeta, a compor-lhe um texto como forma de homenagear o amigo a quem tanto admiro.



PISTAS DO PASSADO


À frente tracejada, ricamente detalhada
Uma velha casa, semi aberta ou abandonada
Majestosa escarpa sobre a mata verde vasta
Derrama lágrimas entre suas fendas castas

Sob o índigo céu, paira inócua centelha
Insólita peça, desbotada, vermelha
Esquecida no estéril chão largo e batido
Pelo sol, pela chuva, pelo uso esculpido

O que a visão do arvoredo oculta?
Quantos segredos a relva sepulta?
Vultos, sons, passos fortes, miragens,
Vozes, gritos, lamentos, imagens.

Suaves matizes, nuances, sombreados
Retalhos de vida nos ligando ao passado
Quem desenha poesia com tal sentimento
Verseja em traços a alma, senhora do tempo.

Poeta que escreve em desenho a história
Em riscos hábeis, rebuscando a memória
Frágil, imprecisa de um longo tempo, tardio
Retrata momentos que ao vê-la sentiu.

Que pedaço da vida esconde a gravura
Que o poeta exaltou ao poetar a figura?
Ânsia de dar à história, valor por direito
Retratando essa paisagem de modo perfeito.

O que há no interior desse quadro intrigante?
Que ao poeta ao compor, lhe escapou num instante?
Paixão, solidão, quem sabe desejo ou amor?

Nessa tela, poeta, não há botão nem flor!


********************

Ao Fred, muito carinho e sucesso; aos poetas, minhas sinceras desculpas pelo atrevimento.


Márcia Oliveira
03/02/2009


********************

Obrigado pela presença.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

10.2.09

Rebento

Abruptamente me vem um verso
Que eu, mais que depressa, transcrevo.
Perguntar de onde vem? Não devo;
Anoto. Mesmo que disperso.

Em seguida outro verso salta;
Uma tímida imagem se esboça,
Tenaz persistência endossa
E eu sigo a tramar o que falta.

Amo, voo, ou conto uma história
Na cadência do pensamento,
Palheta de muitos matizes.

Versejar é mesmo uma glória
É como parir um rebento,
Traçando eternas cicatrizes.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra

9.2.09

Passarinho

Pega minha mão e aperta,
Pois eu não quero seguir sozinho.
Não há graça, como agora,
Tecer estas frases tortas
Na solidão deste ninho.

Pega minha mão e coloca
Em teus seios intumescidos;
Sejamos, pois, como outrora,
Lembranças não fiquem mortas
E nem sonhos esquecidos.

Pega minha mão e anela;
Sonha ao sabor deste vinho.
Já é tempo, já é hora,
Tristeza me bate à porta;
Cansei de ser passarinho.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

7.2.09

Não sei

Seria teu cheiro? Não sei.
Seria teu charme?
Seria teu toque, talvez,
Num ponto de alarme?
Seria teu jeito faceiro
Agindo em desarme?
Ou seria somente
Fraqueza da minha carne?


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

5.2.09

Gueixa

Deixa que seja então desse jeito,
Mesmo na impossibilidade.
Deixa latente dentro do peito
Essa sensação de liberdade.

Quero que sejas sempre o abrigo
Desse menestrel itinerante
E possas sempre navegar comigo
Nas águas desse mar inconstante.

Um dia, quem sabe, ao alcance
Das mãos, eu possa ter tua vida
Matando o que a saudade me deixa

E possa ver num grato relance,
Clara, minha imagem refletida
Dentro desses teus olhos de gueixa.



Frederico Salvo
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4.2.09

Entre isso e aquilo

Entre a fome e o fastio...
Mora a saciedade;
Entre a mentira e a verdade
A omissão tece seu fio;
Vai rolando a fantasia
Feito as águas de um rio;
Às margens: o sonho e a realidade.
Vou firmando a minha lida
E entre o nascimento e a morte,
Não sei se por revés ou sorte,
Vou vivendo a minha vida.

Frederico Salvo.
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Direitos efetivos sobre a obra.

3.2.09

Sopro de vida

O Senhor sentou-se à mesa com os cobradores de impostos.
Eles que eram os estigmatizados do tempo antigo,
Estranhamente se sentiam como se num abrigo
Na presença daquele que, calmo, lhes fitava os rostos.

Por que será que esse senhor senta-se à mesa conosco?
Pensava profundamente um ancião assentado ao fundo;
Justamente nós que somos párias neste vasto mundo
E que socialmente enfrentamos um convívio tosco.

Um dos mais moços, que havia sido escolhido por ele
Ainda pela manhã no meio do agitado povo,
Ouvia, embevecido, as doces palavras pungentes.

E uma frase muito clara para o entendimento dele
Chegou-lhe aos ouvidos como um sopro de vida novo:
_Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

2.2.09

Queira-me

Queira-me como queres as coisas que te alegram,
Que são para ti livres e boas.
Quero ser como o vento
Que vem soprar-te as folhas vistosas
E em seguida parte deixando-te
Em companhia da brisa leve.
Sabes como é o abraço do vento
E quando ele retornar,
Receba-o em profundo êxtase.
Queira-me como queres as coisas que te alegram,
Que são para ti livres e boas.
Queira-me exatamente
Como o arbusto quer o abraço do vento.


Frederico Salvo
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1.2.09

Sob as estrelas

Na cúpula do céu ardem estrelas
Brilhando nos confins da Via Láctea.
Meus olhos, cá da terra, só por vê-las
Intensas; lacrimejam. Minha pátria

É todo esse universo imensurável,
Não há dele beleza segregada
Que seja mais intensa ou comparável.
Além desse deslumbre não há nada

Que possa surpreender a alma tanto,
Que tenha mais mistério ou mais encanto;
Imenso e negro véu que envolve a tudo.

De onde vem? Para onde vai a estrada?
Pergunto observando a madrugada.
O céu?... Indiferente...; segue mudo.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.