31.3.09

Pensando em ti

Às vezes paro a pensar em ti. Sereia
Do mar constante que habita meu regaço.
Há sangue quente a transportar em minha veia
Amor maior que a serra grande do espinhaço.

Há poesia que inunda afluente
O evidente sentimento de que falo
Num mar maior onde navego calmamente
E que por ter-te tão em mim, onde me calo.

Eu simplesmente sinto forte e me rebelo
Contra o que o mundo insiste em dar-me a firme trago
E despedaço em versos mil, completamente...

As coisas brutas que implodem meu castelo,
As beberagens que infundem gosto amargo.
Eu tudo apago ao desfrutar-te em minha mente.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

27.3.09

Vaidade

Trazes em teu dedo esse anel brilhante
Que é de fato preciosa gema,
Mas queres dar-lhe assim, a todo instante,
Valor maior em atitude extrema

De dar a ti um ar tão elegante
E dar a peça um toque de emblema
Que te confira um lume mais radiante
Que a própria jóia... roubando-lhe a cena.

Queres que vejam todos, boquiabertos,
O nobre porte, o rosto escanhoado...
(O ponto fraco de muita falena).

A vaidade é mãe desses desertos
Que a vida há tanto, tanto tem te dado:
Um ego grande...uma alma pequena.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

24.3.09

Prelúdio


O singrar, ao peso d’âncora, sucumbe;
O sorriso (chama breve) apaga-se
Ao sopro de um vento que se incumbe
De desvanecer tod’esse deslumbre:
O orgulho que por hora agiganta-se.

Pisoteias àquele que te serve
Como se as próprias mãos secionasses;
És todo poderoso nessa verve
Que humilha, esnoba, desmerece e ferve
Sobre o fogo da soberba em tua face.

Estufas o peito, seguro e arrogante
Por teres a chave que te abre às portas.
Caminhas zombeteiro e triunfante;
Nem percebes que és prelúdio agonizante
E que serás, amanhã, lembranças mortas.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

21.3.09

Toda escolha tem preço

A claridade rara de que falo
E procurando venho como um louco,
Deixei fugir de mim por muito pouco
E por sofrer demais é que me calo.

Aquele lume sempre foi caminho;
Nem percebia, andando sem tropeço.
E por ter todas as escolhas, preço;
Pago agora o valor de estar sozinho.

Sozinho não por me faltar apreço
E nem tão pouco por ser desprezado.
A esses males, meu Deus, desconheço.

Sozinho sim por ver-me enclausurado
Na solitária que bem sei padeço
Por ter perdido aquele ser amado.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

18.3.09

Quem foi?

Quem foi que turvou a água
Que fluía cristalina?
Quem derramou o azeite
Que ungia minha sina?
Quem foi que quebrou o cântaro
Do meu vinho predileto?
Quem, por puro egoísmo,
Fez do humano, objeto?
Quem urinou na parede
E pixou o muro novo?
Quem foi que rasgou a rede?
Quem foi que quebrou o ovo?
Quem, em sã consciência,
Feriria uma criança
E com tara doentia
Alimentaria a lembrança?
Quem queimaria a colheita
Dos únicos frutos da aldeia?
Quem seria o traidor
Da última e sagrada ceia?
Diga quem foi o covarde
Que ao infante fez careta:
Foi a morte; foi o demo;
Foi o boi-da-cara-preta.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

15.3.09

O que trazes oculto

O que trazes, coração, bem oculto
É a única e mais pura verdade.
É saudade transformada em vulto,
É a tua mais intensa vontade.

Minha alma, que de ti faz morada,
Sabe bem qual é a cor do desejo,
Não se deixa prosseguir enganada;
Com mentiras, é de pouco traquejo.

Sei que dói a lancinante ferida
Que jamais se aquietou esquecida
A arder freqüentemente em meu peito.

Posso até querer seguir enganando,
A mim mesmo oferecer fogo brando,
Mas a ti, meu coração, não há jeito.

Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

14.3.09

O caminho mais curto

Não sei, por minhas palavras,
Que juízo fazes de mim.
Sei apenas que elas encarnam
O gosto do que o mundo
Processa em meus sentimentos.
São minha derradeira vontade
De aliviar a alma do caminhar calado,
Ruminando tudo que estimula meus sentidos.
Escrevo, por pensar fazê-lo melhor
Que expressar verbalmente o que sinto,
Por ser este o caminho mais curto
Entre o espanto de estar vivo,
Receptor constante
De tudo o que acontece a minha volta
E esse que agora escreve
Na tentativa de fazer-se compreender
E da eterna e laboriosa luta
Por compreender melhor a si mesmo.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

11.3.09

Fina estampa

Garanto que nada disso aconteceria
Se não houvesse em mim desabrochado encanto
E se na terra boa desse sonho eu planto,
É porque em sonho, desde há muito, vivia

A colher as flores que a chuva açoitava
A nutrir de cores opaca melancolia;
Caminhava tanto pela noite, pelo dia
Acendendo a chama que o vento apagava.

Agora que essa chama arde em segurança,
Que a melancolia jaz em fina estampa
E as flores estão no vaso sobre a mesa,

Não vou permitir que me fuja a criança
Que pela vida toda sobre o sonho acampa
E que agora, em ti, encontrou a certeza.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

10.3.09

Abandono

Dentro de mim houve um dia,
Repleto de áurea alegria,
Um outro eu que hoje mora
Distante, pois foi embora
Perdido em melancolia.
Ficou tão somente a saudade
Que desde a mais tenra idade,
Covarde lhe perseguia.

E como foi isso, ora pois?

Foi sem dizer aonde ia
Numa noite em que chovia
À cântaros; Que maçada:
Sozinho na madrugada
Partiu frente à ventania
Deixando no abandono
O peito que era dono
Daquele um que partia.

E o que levou consigo?

Levou a fotografia
D’um riso que pertencia
A um passado distante,
Uma graça emigrante
Que lhe fugira da vida
Fazendo entristecida
Sua doce fantasia.

Não havia outra saída?

Não. De fato não havia.
Era triste em demasia.
Como ave que não voa,
Harmonia que destoa,
Quimera que não pode ser.
No tal amor queria crer.
Infelizmente já não cria.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

8.3.09

Mulher...

E da costela retirada fez-se o mistério
Que trouxe o riso ao rosto grave, sério
Do primeiro homem depois do nada.
E por tal ação fez-se a beleza reluzente e sã,
Delicadeza a levar-nos todos pela mão.
Do sagrado ventre fez-se morada
De todos os que caminham pela estrada
E têm seus caminhos marcados para sempre
Pelo mais sublime, pela vida
Nos teus olhos doces, refletida
Como sutil carinho que redime
Do revés, na vida, que vier.
O calor divino do teu colo
Nos dará enfim o firme solo
Do amor que tens por seres mulher.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

7.3.09

Criança

Mora em ti, criança, toda a alegria;
Mora em teu sorriso toda esperança.
Vive em tua alma tudo que um dia
Deus, por tua graça, chamou de bonança.

No teu corpo frágil vive a poesia,
Nos teus olhos a inocência descansa,
O teu todo inspira doce fantasia,
No teu seio a paz forja a sua dança.

Estremece a terra, ruge a ventania;
Faz-se a guerra, brota a desconfiança,
Impera o ódio ( lástima desmedida ).

Tudo isso acaba, morre a revelia,
Pois toda essência do bem dessa vida
Vive estampada em tua face mansa.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

4.3.09

Trago hoje mais um dos meus desenhos dos quais falei aqui há alguns dias atrás. Com ele vem um novo poema da querida amiga Márcia Oliveira que, a sua maneira, só faz engrandecê-los.




Na superfície polida ergue-se o monumento
Não há sol, não há chuva, sequer um movimento
Traços rústicos, simples, de serena leveza
Harmonizam silencio com intensa beleza

Sino em claustro, silente, calado
Portas fechadas,( incoerente pecado)
Inabalável força na cruz que resiste
Pela fé implacável, incansável persiste

Solo fecundo, quase imaculado.
Arbustos à frente, ao fundo, ao lado
Ao alto, a cruz na torre encravada
Rompe os céus pelos anjos arrebatada

Mas talvez seja a ausência de cor e de vida
Que faça a gravura parecer tão sentida
Outrora palco de alegria ou lamento
Refúgio ou pilar de qualquer sentimento

O que deu ao homem a torpe ilusão de poder?
A falta de fé, trocando o ser pelo ter
Guerra, traição, vidas perdidas, iniqüidades
Agoniza a infância na inversão das verdades

Natureza agredida, miséria, fome, censura
Juventude roubada, dor que consome, tortura
Mas ainda há tempo no templo sem fechadura
Há um caminho, uma pequena abertura

Resta ao mundo reaver a esperança
Talvez na inocência de uma criança
Invocando em prece o final da ambição
Num abraço honesto de irmão para irmão

Fé e honra, nobreza dos atos
Igualdade e justiça, verdades de fato
Fé sem nome, sem dono, sem cor ou nação
Vida plena e poesia declamada em canção.
Márcia Oliveira
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Frederico Salvo.

3.3.09

Porta fechada


“Sempre existe uma saída para qualquer problema por mais complexo e difícil que nos pareça.”


À primeira vista a porta fechada
Pode parecer fim da jornada,
Pode iludir que é findo o caminho,
Que não há mais nada além desse pinho.

À primeira vista a dor que se sente
Lancinante criva o peito ardente,
Quase apaga em nós a chama que vive,
Quase intransponível: íngreme aclive.

À primeira vista o chão quase falta.
É como o apagar de luz na ribalta.
Frente à escuridão, a última vela:

A fé; semovente queima no escuro,
A querer transpor altíssimo muro
Quando de repente... abre-se a janela.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

2.3.09

Bálsamo

Vou bebendo desta água aos borbotões,
Matando minha desértica sede;
Tecendo com teu fio a minha rede,
Costurando como fazem os tecelões.

Faço de ti a minha companhia,
Afoga-me no âmago a solidão,
Transformo em deleite meu momento vão
Debaixo desta sombra. Poesia:

Vens a mim como bálsamo benigno,
Entrego-me à força do teu signo.
Tu és a maestrina desta pena

Que escreve minha louca aventura,
Que traz a esperança e que procura
Fazer a minha dor ficar pequena.





Frederico Ssalvo

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Direitos efetivos sobre a obra.

1.3.09

Ausência

Quando te assentares à beira-mar
E lançares um olhar para o infinito
Com o vento a soprar-te o rosto,
Lança-me um pensamento
Ou lembra de um poema que te fiz,
Pois onde quer que eu esteja,
Seja aqui ou em um mundo ausente,
A sutileza de um arrepio tocará meu espírito
E eu serei intimamente feliz.
Feliz como teus olhos que fitam o oceano
E observam maravilhados o vôo da gaivota.
Feliz como teus seios em minhas mãos distantes,
Como o teu beijo em minha boca nula, adormecida.
Ama-me nesse instante único,
Onde o universo se desnuda a tua frente
E as ondas da maré cheia
Trazem o sussurro do meu suspiro aos seus ouvidos.
Ama-me amor; ama-me,
Enquanto sou vento, enquanto sou gaivota,
Enquanto sou nulo e adormecido.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.