18.7.10

Infância


Agenor comera um dia,
Na casa de sua tia,
O bolinho de feijão mais gostoso da vida.
Mas um dia entristecera
Pois a tia falecera
E nunca mais ele, então, teve a coisa preferida.

Desde o dia do velório
Em tudo que era empório,
Agenor procurava.
Embrenhava-se nas feiras,
Visitava salgadeiras,
Mas coisa igual não achava.

E foi assim pelos anos,
Provando muitos enganos,
Procurando com labor.
Perguntava-se sozinho:
Será que haverá bolinho
Que tenha aquele sabor?

E não achava respostas;
Esperanças já remotas
Iam-lhe pela alma.
Mas era um homem tenaz,
Sabia-se mesmo capaz;
Continuava com calma.

Quando em alta idade ia
Vendo uma fotografia
Dos tempos dele menino;
Achegou-se da janela
De sua casa amarela
O Zé Cocota, sorrindo.

_ Vai bolinho Seu Agenor?
Bradou-lhe o vendedor,
Vindo de longa distância;
Justamente naquele dia
Descobriu que o bolinho da tia
Tinha era gosto de infância.


Frederico Salvo

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