18.11.09

Vento interno


As nuvens rajadas do céu de abril
Chegaram sob a força de um vento
Que passou pelo meu rosto,
Beijando-me os olhos e lábios.

Em raios ainda tímidos, o sol,
Pela manhã, trouxe um abraço leve
Em sua energia pura de fogo
Sobre o meu costado nu.

Distraio-me com o balanço das folhas,
Açoitadas por esse mesmo vento.
Ainda não sabem que em poucos dias
O outono as jogará ao solo.

Serão apenas uma lembrança
Daquilo que um dia foram.

Há em mim também um vento interno
A balançar-me em saudade.
Sou um galho seco,
Um caniço solitário.

Vai distante a primavera.
As imagens que um dia foram flores
Adubaram o solo da minha terra
E fui um caule em desenvolvimento.

Senti a seiva dentro de mim,
Circulando pelas veias.
Alguns vieram depois
E deitaram-se sob minha sombra.

Houve deleite em sorrisos alegres
Antes do meu primeiro outono.
Depois caíram-me as folhas,
Aos meus pés, sombra não mais havia.

Perderam-se os sorrisos alegres...
os votos eternos...
Eu prossegui, resignado,
Às voltas com um monstruoso inverno.


Frederico Salvo.
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Direitos efetivos sobre a obra.

2 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

Hoje pesquisei muito sobre poemas com vento, ventania...e não foi só eu, percebi em mais alguns espaços. Parece mesmo que a inspiração de hoje é o vento, e este poema é muito bonito!
Um abraço

Anônimo disse...

Meu querido Fred,

Seu poema é de uma intensidade magnifica.
Não sei se isso serve de consolo, mas o bom é que existem outras estações...
Cada dia que passa não consigo ficar sem ler-te.


Beijos meus poeta lindo.
Clarisse