2.3.10

Indesejada imprudência


Enquanto houver um prato desprovido de comida
E contra isso não se desprender maior esforço.
Enquanto imperar essa razão subnutrida
E tantos estiverem de descaso até o pescoço.
Sobrevirá a tudo, acorrentada, a violência,
Pois cada um que morre ignorado, pele e osso,
Induz a outros tantos a saírem desse fosso,
Usando (seja lá qual for) insana providência.
Ignorar a voz que clama exasperada e clara,
É encontrar-se nu e esconder somente a cara,
É estar resignado quando ainda há saída.
Aquele que, egoísta, assassina a consciência,
Abraça, conivente, a indesejada imprudência
De alimentar a morte... de deixar morrer a vida.


Frederico Salvo

Nenhum comentário: