17.3.10

Clarabóia


Ele esperava.
Não sabia o quê,
Mas esperava.

Havia um vazio incômodo,
Uma clarabóia
Vazada no peito.

Ardia nele, perene,
A chama d’um sonho
Que o conduzia.

Andava pelo parque
Ou pelas ruas.
Era um cidadão comum

Que amava Beatles
E colecionava insetos...
Espetadas reminiscências.

Passou uma vida assim,
Esperando pelo que não sabia,
Com os raios a cruzar a clarabóia.

Um dia, numa madrugada órfã,
Ela chegou sorrateira,
Esgueirando-se por trás da cortina.

Deitou-se calmamente sobre ele
Sem dizer um nada...

Num estertor derradeiro
Ele, enfim, sentiu-se completo.


Frederico Salvo

Um comentário:

Liliana G. disse...

Querido Fred, es una delicia volver y encontrar poemas como este, ungidos de los interrogantes que encontramos en la vida, porque ¿quién no vive esperando algo, aunque no sepa lo que espera?

Todos tenemos una claraboya sobre nuestra cabeza, todos seremos completos algún día...

Maravilloso poema, Fred, además me ha encantado conocer tu voz, amigo mío.

Un cariño inmenso.