25.11.11

Meu último poema


Acaso leias meu último poema,
Saiba que nele estará implícita
A totalidade dos teus olhos
E ainda, mais além,
Os olhos dos teus amores
E da tua alma.

Acaso fale da natureza,
Haverá nele o mais indizível verde
E o ápice homeostático
De todos os elementos que a compõe.

E a despeito de toda a beleza,
Esse verde será também
O sumo de toda mágoa,
De toda frustração indesejada
E de qualquer ira adormecida,
Temperadas pelo afã de vê-las superadas.

Acaso leias meu último poema
E ele te pegue desprotegido, despedaçado,
Saiba que nele, independente do que transmita,
Haverá um abraço oculto,
Um beijo elaborado
Para servir a teu espírito dolente.

Acaso fale de solidão,
Haverá nele, concomitantemente,
Um luminoso branco de paz,
Uma bandeira que cubra a todos os povos
E que desfaça de vez toda a tristeza.

Acaso fale de insegurança e medo,
E seja negro e escuro
Como a mais negra madrugada,
Haverá nele, sempre,
O brilho essencial
De uma pequena estrela perdida.

Acaso leias meu último poema
E ele não possua versos que te agradem,
Saiba que em mim houve
A mais intensa entrega
E a coragem desmedida
De quem salta no vazio.

E sendo assim,
Acaso não tenhas lido
Nenhum de meus poemas
E não venha a fazê-lo posteriormente,
Terei sido para ti, bem ou mal,
Nesses versos que leste agora,
A intenção sincera e aguerrida
De que haja sempre o melhor em ti...
...pois acabaste de ler,
talvez por obra do acaso,
o meu derradeiro e último poema.


Frederico Salvo

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