26.7.11

Esperança e desprezo (composição musical)




Composição para violão: Frederico Salvo

23.7.11

Soneto sobre as sete amigas


_ Palmas pra mim que sou o máximo!
Gritou retumbante a Vaidade.
_Cala-te, convencida; Mísera!
Bradou a Ira (rubro-escarlate).

_ Melhor merendarmos o próximo.
_ Sandwich? – Perguntou a Gula –
_Não! Falo no sentido físico.
Disse a Luxúria. (já meio fula).

E a Preguiça, de modo trôpego,
Diz ao pé-de-ouvido da Avareza:
_Melhor descansarmos. Palhaçada!

E essa bem altiva e rápida
Diz: _Mas descanso não faz riqueza!
E a Soberba? Orgulhosa, calada.


Frederico Salvo

21.7.11

Por querer...


E foi por querer meter a mão no pote
Onde rebusquei a tal felicidade;
Por não ter poema e então buscar um mote
Que levasse além d’uma cruel saudade.

Por acreditar que amor não é fricote,
Confundir desvelo com afinidade;
Por ficar de pé nesse pequeno bote
Sobre as vagas vis em plena tempestade,

Que mais uma vez encontro-me sozinho,
O peito em frangalho, a alma em desalinho...
(Foi o que restou desse pesado dote).

E ao procurar da dor a panacéia
Transformei-te assim em musa... Dulcinéia,
E fui pra ti apenas mero Dom Quixote.


Frederico Salvo

16.7.11

Espera


Espera. Espera e enquanto isto escuta
O que diz teu coração sobressaltado
À sombra de um sorriso malogrado
Pela ânsia da ventura que o refuta.

Espera. Espera e enquanto isto enxuga
Co’essas tuas mãos este constante pranto
Que inutilmente tens vertido tanto
Por um certo alguém que vive sempre em fuga.

Espera. Espera porque, sobretudo,
Esperar tem sido o teu melhor alento;
Um sonho bom à luz da primavera.

E o passar do tempo que suplanta a tudo,
Há de trazer, qualquer dia, num rebento,
O sagrado fruto desta tua espera.


Frederico Salvo

12.7.11

Sonho


Desço do bonde agora que já é tarde.
Não há na rua ninguém que me espreite.
Fui até longe e não encontrei deleite
Cá no meu peito uma ferida arde.

Na minha cama, dentro do meu quarto,
Meu pensamento ancora em teu recife.
Caio no sono e antes que me espatife,
Num sonho esquálido e leve parto.

Enquanto a barcaça na marola bóia
Num mar sereno que pintei um dia,
Tu me acenas da beira da praia.

Perfeita musa num quadro de Goya,
De Amadeus exata melodia,
Desconcertante e bela deusa Maia.



Frederico Salvo

10.7.11

Decreto em soneto


Fica terminantemente proibido
Que os sonhos bons se percam na estrada.
Que os frutos do amor sejam colhidos
E à parte sejam postos como nada.

Fica terminantemente proibido
Que a paz seja somente um discurso.
Que os pobres sejam sempre excluídos
E o rio do egoísmo siga o curso.

Que Deus esteja abaixo do dinheiro,
Que a guerra seja fato costumeiro
E o ímpeto do bem seja contido.

Que falte o alimento sobre a mesa,
Que seja agredida a natureza.

Fica ter-mi-nan-te-men-te proibido.



Frederico Salvo


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8.7.11

Nua Nau


Lua
Linda,
Nua
Bóia.

Alva
Jóia,
Calma
Singra

Neste
Céu...
Bela;

Foste
Nau
Rara.


Frederico Salvo

6.7.11

Minha senhora


Queria dar nos ponteiros um jeito
De eternizarem o tempo nessa hora
Em que desfilas nua, minha senhora,
E vens fazer morada no meu leito.

Deixar a vida transcorrer lá fora
(vida maior me vai dentro do peito),
Se tudo mais eu muito tenho feito
Por essa chama que em mim aflora.

Nenhum minuto mais é registrado.
E tudo a nossa volta está parado,
A eternidade toda é no agora.

Dentro d’um quadro esses nossos instantes
De desprendidos e loucos amantes
Vão congelados pela vida afora.



Frederico Salvo

2.7.11

Flash-back


E se eu fizesse tudo ao contrário.
Começasse da morte
Até chegar ao berçário.

E dali então buscasse outro cenário.
Mergulhasse no útero
Até que chegasse ao ovário.

Mais além... vida e morte siamesas

E o diverso, unitário.



Frederico Salvo