26.6.11

Louco


Haja visto que tudo o que norteia
E baliza a conduta dessa gente
Vai de encontro a essa chama que incendeia
O egoísmo que caminha sempre à frente.

Não que fosse assim desde o começo.
Pouco a pouco é que se vai forjando em brasa.
Nesse mundo em que tudo tem seu preço,
A inocência é enterrada em cova rasa.

Há quem, louco, nada contra a correnteza.
E essa força monstruosa desafia,
Compensando força bruta com leveza.

Desce o elmo e incorpora fantasia,
Hostilidade paga com delicadeza
E transforma desamor em poesia.


Frederico Salvo

22.6.11

Abrigo


Abrigo meu de todas as tormentas.
Mais uma vez retorno são e salvo.
Eu perguntei ao vento: _ Por que ventas
Na direção contrária do meu alvo?

Abrigo meu, resposta tive exata.
Numa lufada forte em assobio
O vento sugeriu: _ Não te maltratas,
Ajusta as velas na direção do estio.

Assim o fiz então resignado.
E agradeci ao vento pela sorte
De entender tão nobre melodia.

Orei por fim ao ter reencontrado,
Depois de ter lutado à clava forte,
O meu abrigo (água que sacia).


Frederico Salvo

19.6.11

Bambu


Doravante serei eu flexível
Qual bambu que dança ao vento bravo,
Pois já sei que nunca é possível
Ter a fruta da vida sem o travo.

Tatarei de, defronte ao intransponível,
Dar-me asas, fugir de ser escravo
Da atitude sem graça e previsível
De a tudo atribuir agravo.

E voar até que é possível
Se co’as unhas da esperança cavo,
Se da fé eu faço combustível.

Se o vento não aceita conchavo,
Não vergar é inadmissível.

Só dou ponto depois que alinhavo.



Frederico Salvo

11.6.11

Duas vidas

Não há que existir esse ranço de guerra
Entre duas vidas que caminham juntas;
Uma bandeira mútua no alto da serra
Deve ser resposta a nossas perguntas.

Não há que existir competitividade
Entre forças que têm o mesmo sentido
E que vão a busca da felicidade;
Não tornemos nosso sonho dividido.

Não deveremos fuçar nossos defeitos
Por querer ser mais que o outro apenas,
Nem tripudiar sobre os erros alheios.

Deveremos exaltar os nossos feitos
Fazer das nossas mazelas, pequenas,
Já que são meus, amor, os teus anseios.


Frederico Salvo.

Desde que foste é assim...


Silêncio.
A casa está vazia novamente.
Há um resto de riso no ar,
Uma gargalhada ecoando.
Teus olhos ainda estão aqui...
Azuis como o céu.
Céu do meu contentamento.
Desde que foste é assim.
Um poço fundo de coisa alguma,
Essa impressão de que já fiz minha parte,
De que o caminho adiante
Não é para os meus passos.
Vou de um cômodo ao outro,
Num incômodo permanente.
A lembrar-te ...
In-fi-ni-ta-men-te.

Frederico Salvo

9.6.11

Um gesto apenas





"Faça o que é possível para um máximo de pessoas
e deixe Deus encarregar-se do resto".


Um gesto apenas. Um gesto que valha
Para dar vida àquele que vagueia.
Seja um sorriso, doce luz que espalha
N'alma dorida, fogo que incendeia

Ou seja o toque (quem sabe um abraço?)
Para abrandar a dor que serpenteia
E alivie o peso do cansaço
Que dilacera, queima e desnorteia.

Um gesto apenas. Um gesto que valha
Para tirar por hora quem caminha
Sobre o danado fio da navalha.

Talvez pequeno, tênue feito linha.
Talvez sutil, leve como palha...
Cais para a alma que vaga sozinha.


Frederico Salvo

4.6.11

Desconsolo


Diabo! Que palavras meto nesse verso agora
Se na vestimenta pura já não caibo
E a esperança vã deitei todinha fora?

Flâmula que esvoaça sem nenhum consolo
Ao sabor do vento, comezinha, tácita,
Que traz estampado imensurável dolo.

Só a solidão repousa à margem plácida.


Frederico Salvo