14.5.11

Óbvio



Precisarei de tempo, muito tempo...
Antes que a noite chegue por completo
E esquarteje os últimos raios do sol,
Antes que tudo pareça evaporar
E não haja mais nem uma pequena lágrima.
Precisarei de tempo para desfazer o bordado
E começar novamente...
Com outras linhas que não as minhas.
Precisarei retornar pelos passos que dei
Até encontrar a vereda equivocada,
Até entender o que foi que me distraiu no caminho.
Precisarei de tempo para rir da piada fraca
E chorar pelo que não me toca.
Precisarei esquecer os cortes e amolar a faca,
Revolver a terra do leito do rio, já sedimentada.
Precisarei fingir que não dói a desfeita
E escancarar o sorriso de fachada,
Dissolver política no meu mundo.
Terei que pigmentar com cores indesejadas
Novos desejos aceitáveis...
Vestirei a roupa da moda...
Mesmo sabendo que não me cai bem.
Talvez assim haja tempo para ser içado
Deste mar que em mim não cabe.
Depois então...
Se não for também esse o caminho...
Terei entendido, de uma vez por todas,
O óbvio que repousa em mim agora.


Frederico Salvo

Um comentário:

Unknown disse...

Eu não sei explicar como cheguei a este blog, talvez o acaso! O fato é que já não sei dizer a quanto tempo estou lendo esses poemas lindos, cheios de sentimentos, de encanto.. e de tão bons, não quero parar..
Queria encontrar palavras pra descrever o meu entusiasmo ao ler este trabalho MARAVILHOSO! MAS, "Precisarei de Tempo" para encontrar as palavras certas! rs

Parabéns!!!