10.7.21

Lume

Transformei-me em algo, assim, meio cortante...

Um punhal, um estilete, uma navalha.

Fui forjado no esmerilho constante,

pela mó inflexível da batalha.


Nessas curvas sinuosas cada passo

Foi um ato decisivo no caminho.

Cada nota dada fora do compasso,

Cada erro, cada gesto em desalinho


Deram fio expressivo a este gume

Que hoje fere a mim mesmo amiúde

Nas estradas deste mundo, vida afora.


E da lâmina que sou só resta agora,

Ser bem mais amor e, muito menos rude,

Esquecer da dor e ser somente o lume.


Frederico Salvo


Nenhum comentário: