
24.4.11
19.4.11
Psicografia

As lâmpadas se acenderam agora
E iluminaram as barracas no fundo da rua.
Ali onde minha infância foi tênue,
Meus sonhos foram insossos
Por haver em mim tanta brevidade.
Daqui posso ver tudo novamente;
Como um filme, quadro a quadro,
Uma torrente que vislumbra todo sentido.
Fui o que poucos foram,
Desatei o nó que havia em meu peito,
Resgatei o fardo de muitos
E resplandeci leve como a espuma
Que se move sobre as águas.
Frederico Salvo
16.4.11
Ventre
12.4.11
A cor da paciência

O tempo voa e eu insisto em ir valsando,
Pois não me leva a pressa à terra outra
Além da mesma terra que sonhando
Eu sempre quis aquém da ânsia louca.
Eu quero o passo certo, a vela solta
Ao vento nobre que não seja furibundo,
Eu quero exato ímpeto e não revolta
Alimentando a chama do meu mundo.
Quero dançar um xote ritmado,
Ir esquecendo o modo apressado
Que imprimiram a nossa existência.
E quando um dia houver encontrado
Seja o que for que haja do outro lado,
Peço que tenha a cor da paciência.
Frederico Salvo
8.4.11
Alma

O que é exatamente o que chamam de alma?
Um nada que sustenta o todo do mundo?
Luz que bruxuleia semovente, calma,
Naquilo que a vida tem de mais profundo?
Seria tão somente fogo momentâneo
A alimentar feroz o tempo passageiro?
Ou parte de verdade santa, verossímil,
Daquilo que seria verdade por inteiro?
O que sustenta o corpo? O que dá rumo aos passos?
Que chama unifica todos os compassos?
O que te faz alegre ou te torna triste?
Naquele que indaga vivo, consciente,
Existe a resposta rápida, pungente:
A alma é quem pergunta se a alma existe.
Frederico Salvo
5.4.11
O timoneiro

Decerto serei eu o timoneiro
A desbravar as águas do oceano
Que hora eu encontro traiçoeiro
E noutra em calmaria vou singrando.
Não há como fugir dessa peleja
E nem abdicar a esse comando
E mesmo quando em dor, bendita seja,
A ação de ir em frente navegando.
Porque em toda dor a alegria
Repousa sutilmente alva, clara;
E em toda realidade há fantasia.
A vida é mesmo pedra muito rara
E a noite esconde a luz de todo dia...
A luz da vida... sempre muito cara.
Frederico Salvo
1.4.11
Na luz dos olhos teus

Eu vi a vida na luz dos olhos teus.
O chão...
A árvore...
O porto da lágrima incontida.
O barco...
O aceno. Ele me pareceu estático.
Definitivo.
O globo onde tudo parasse
A fazer sentido.
Seus olhos eram como mãos a me tocarem,
Braços a abraçarem,
Boca a me beijar a boca.
Neles havia a mulher e a menina,
A velha e a moça,
O ocaso e o meio-dia.
Eu continuaria a olha-los pela vida toda
Sem sentir sede nem fome,
Frio ou sono.
Fecho meus olhos e continuo a vê-los
A iluminarem o avesso
De tudo aquilo que não possuo.
Frederico Salvo
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