
Quem já experimentou viajar num trem de ferro sabe tratar-se de uma indescritível experiência.O grande poeta Manuel Bandeira, escreveu um divertido e bonito poema onde descreve uma viagem dessas. Uma graça de poema. Inspirado nele e também em minhas lembranças (as melhores que trago na memória) de viagens que fiz por alguns lugares aqui de Minas Gerais, resolvi também me arriscar em alguns versos a respeito do mesmo tema e sob a mesma ótica de Bandeira. Como se o "eu poético" fosse o próprio trem de ferro. Deixo, então, para a leitura de vocês os dois trabalhos; a começar pelo meu.

TREM
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vou . . . . .
saindo . . . . . . . . . . . . . de mansinho . .
. . . . . . . . . . . . da estação . . . . . . . . . . .
. . . . . devagarzinho . . . . . . . . . . . . . . .
deslizando . . . . . . . . . . . . . pelos trilhos
. . . . . . . . . .num chiado . . . . . . . . . . . .
vou partindo . . . . . . . .vou rasgando a
ventania. . . .pelas curvas do caminho
. . . .disparando . . .num rompante. . .
vou seguindo. .
paro, não paro, paro, não paro, paro ,não paro
Passa boi, passa boiada,
Passa galho de ingazeira,
Passa campo, passa estrada,
Passa um buritizeiro,
Passa rio, passa ponte,
Bambuzal passa pertinho,
Passa um belo horizonte,
Passa breve um passarinho,
E vou. . . . . . . . .
Sigo contente, sigo contente, sigo contente, sigo contente,
Sopro forte a fumaça,
Sopro grosso, sopro fino,
Passa mato, mato passa,
Passa burro com menino,
Vai passando cachoeira,
Fazenda, cerca, lagoa,
Passa tanta bananeira,
Passa brejo com taboa. . .
Paro, não paro, paro, não paro, paro, não paro
Passa casa, passa fio,
Passa moça na janela,
Passa cadela no cio,
Co’uma fila por trás dela,
Passa túnel, passa poço,
Pescador com seu caniço,
Passa velho, passa moço,
Passa porco bem roliço...
E vou. . . . . . . . . . . . .
Sigo contente, sigo contente, sigo contente, sigo contente,
De repente passa carro . . .passa prédio
. . . . . . passa gente. . . . . . . .propaganda
. . . . . . . . . . . de cigarro . . . . . . . . . . . . . .
Numa placa. . . . . . . . . . . . .bem à frente
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . passa moça que
passeia . . . . . . . . . . . . . . tanta graça . . .
em sua forma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
meu apito . . . . . . . . . . . . . . . . . alardeia . .
. . . . . . . . . . . . . . . vem chegando . . . . . . .
. . . . . . . . . . a plataforma . . . . . . . . . . . . . .
paro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .não paro . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . paro . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . não paro . . . . . . . . . . .
. . . . . paro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . não paro . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .paro.
Frederico Salvo
PS.: inspirado no poema "Trem de ferro" de Manuel Bandeira.
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Direitos efetivos sobre a obra.
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TREM DE FERRO
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo...
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...