18.1.12

Rompantes -IV-

Se ainda fosse um vento polinizador,
Haveria beleza a se ver depois.

***
O rio que corre é sempre outro rio,
No instante seguinte: outra realidade.

***

A vontade de mandar tudo à merda
É exatamente a medida do egoísmo
De cada um.

***


Só ficou uma pedra no meio da estrada.
Única e inquebrantável:
Saudade.

***

Continua ecoando em mim
O som das palavras não ditas.

***


Sou o instante derradeiro
Que separa a gota de orvalho que cai solitária,
Da imensidão de um oceano.

***

Algumas vezes só o que nos cabe é silêncio e oração.

***

Frederico Salvo

15.1.12

Sorvete de morango (Canção)


Frederico Salvo e Aylton Azevedo
Frederico Salvo - violão e voz.




Quando tudo parece perdido
e só a noite parece clara,
tudo parece uma guerra fria,
um incêndio sem porta de saída.

Eu abro um livro, descubro um riso,
nem na geladeira eu encontro os amigos...

Na minha escura cegueira
Vago pelas ruas entre postes,
luzes, sombras, versos e manhãs.
Uma voz dispersa, quase incerta
me traz aos ouvidos nova canção.

Mas tudo é frio, tudo vazio.
Eu sinto que por enquanto
parece que a vida vai se derretendo
como um sorvete de morango.



Frederico Salvo e Aylton Azevedo

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10.1.12

4.1.12

Pretérito imperfeito




“Se você não mudar a direção, terminará exatamente onde começou”.


E já há muito vens andando em círculos
Revendo os próprios passos na estrada.
Voltas inteiras que trouxeram ao nada,
Às reticências, aos pontos e vírgulas.

Sabes de-cór a cor da paisagem
E quantas léguas são até o começo.
Em qual vereda pode haver tropeço,
Quando do pouso, e qual melhor paragem.

Mas de que vale, enfim, tod’esse feito
Se o teu defeito arma-te a cilada,
Se tens marcada a ferro no teu peito

Essa palavra crua tatuada
E conjugada em pretérito imperfeito
Que nunca foi além dessa jornada?


Frederico Salvo

1.1.12

O que te espreita na esquina?





O que te espreita na esquina?
Um malandro delinqüente?
Um bêbado impertinente?
Um Vesúvio? Um Katrina?

O que te espreita na esquina?
Um olhar que te encanta?
Um larápio sacripanta?
Aquele negócio da China?

Na certa, algo te espreita;
Algo tem contigo um encontro.
O relógio; Sempre o relógio.
Naquele exato instante,
O que te espreitava adiante,
Bate contigo na esquina.

O que te espreita na esquina?
Um roto e pobre pedinte?
Uma nota perdida (de vinte)?
Uma puta messalina?

O que te espreita na esquina?
O rosto da antiga amada?
Um amigo camarada?
Uma cólica repentina?

Na certa algo te espreita.
E pode ser qualquer coisa,
Ou também pode ser nada.
O vento. Quem sabe o vento?

Somente na última esquina,
Onde a saudade se enfeita
Uma certeza é cristalina:
A morte...
A indesejada morte...
Que sorrateira te espreita.


Frederico Salvo