31.12.11

FELIZ 2012



No dia 29/12 esse blog completou três anos de existência. Por vezes já quis encerrar as atividades por aqui, mas decidi não fazê-lo. Esse espaço é um canal de manifestações espontâneas e tem sido uma experiência significativa e enriquecedora para mim. Espero, também, que para cada uma das pessoas que por aqui aporte, ele possa contribuir de alguma forma. Agradeço a presença de todos e aproveito para deixar uma mensagem de fim de ano, um poema de Victor Hugo em que aflora tudo o que verdadeiramente desejo a cada um de vocês.
Grande abraço e Feliz 2012.



(Victor Hugo)


(áudio)


Desejo
Victor Hugo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

24.12.11

Perplexidade


Deixo por aqui, para todos que porventura visitarem hoje a minha página e também a todos os que vez ou outra passam por aqui, o desejo de um Feliz Natal repleto de Paz, Amor e muita Saúde.
Grande abraço!

****************




Que força vive no seio da semente
Que a hora certa de fazer existir,
Sabe exatamente?

Seria a mesma força estranha
Que ao sabê-la mãe, misteriosamente,
Fez-se leite em sua entranha?

Será que seria um acaso,
Uma sucessão de coincidências
Ou seria, nesses casos,
Inexplicável transcendência?

Tudo isso pode ser nada?
E se fosse; D’onde viria isso tudo?
Você: pensativa, calada.
Eu: perplexo, mudo.


Frederico Salvo

18.12.11

Cepticismo


Por muito ver a corrupção sobrepujar a ética,
O egoísmo solapar a dádiva;
Foi que criei essa maneira céptica
De encarar essa burrice prática.


Frederico Salvo.

16.12.11

Desvario


Como entender a tua brejeirice
Enclausurada num furor de Beija
E a inocência leve de Alice
Subjugada a um qualquer que seja?

Como entender teus múltiplos deslizes,
A tua lógica dissimulada
E o passado, que habita em cicatrizes,
Aberto em ardente e tortuosa chaga?

Não há caminho, nunca houve nada;
Só um errante e cego desvario
Que se perdeu na torpe madrugada.

Um sonho louco, breve, fugidio.
Uma verdade crua, mascarada...

Realidade rude e vil.... no cio.


Frederico Salvo

10.12.11

Às cegas


Tento esquecê-la. É fato.
Na manhã sombria,
Chuvosa e fria,
Fica na boca o gosto do hiato,
A lacuna que deixaste.

Vão.

Ainda...
Essa mesma solidão
De quando vim ao mundo,
Arrancado, à força, da inocência.
Ainda isso a ribombar.

Eu busquei todas as coisas
Tentando disfarçar.

Veio você.Luz.
E depois o pranto.
Rio silencioso na boca da noite.
Amei-te tanto.
Com a força desmedida de um condenado.

Que marcas a vida tem deixado em mim?
Que devaneios mais devo oferecer-me?

Santa caminhada às cegas.
Vida que amarra.
Passos estimulados
Pelas esporas do ter que seguir em frente.

Vão.



Frederico Salvo

8.12.11

Solidão e anseio


Misturam-se em mim, solidão e anseio;
Num vendaval onde meu peito se agita.
A primeira, perversa; implacável grita.
O segundo balbucia: _ Vim a passeio!

A primeira agride. Rancorosa, fere
E transforma tudo numa noite escura.
Já o segundo, em notável candura,
Transformar-se em claro dia, prefere.

Atados, os dois, numa ferrenha luta,
Criam instabilidade em meu mundo;
Tornam turbulenta essa minha sina.

E assim, dois extremos meu peito desfruta:
Ela tentando me levar para o fundo,
Ele querendo me puxar para cima.


Frederico Salvo

4.12.11

Mais alguns haikais.....

Momento único.
Riso ou lágrima?
Gol!

*****

Lua minguante
No céu do corpo.
Cravo-te a unha.

*****

Voa feito passarinho
Minha cabeça que ato
Para que volte ao ninho.

*****

No vaso do pé de ameixa
Brotou uma flor divina,
Menina com olhos de gueixa.

*****

Arrebata-me o vento
Sobre o corpo esguio.
Alegre pedalo.

*****

Braçada de lírios.
Braçada de sonhos.
Delírios.

*****

Leve como pluma.
Nua e breve flutua,
Sobre a água, a espuma.

*****

Minha barca corta o rio.
Enquanto navega, eu canto
As gratas imagens que crio.

*****

Frederico Salvo

2.12.11

Haikai***


Miúda assim; Perfeita síntese.
Nem um milhão de versos meus seriam
Exatamente como fantasiam
Os sonho meus. Nem chegam próximas

Do que em ti de mim foi condensado,
As rimas desses versos, as metáforas,
Nem mesmo as mais translúcidas, diáfanas,
Conseguem traduzir o teu legado.

Pois tudo que se quer pode ser pleno,
E o que é imenso cabe no pequeno
Sussurro que da tua boca sai.

Por ser o universo resumido,
Na tua existência estar contido...
És minha poesia em haikai.


Frederico Salvo

***forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas).

Deixo aqui também um pequeno haikai:

Espelho, espelho meu...
Há,(o céu disse ao mar),
Alguém mais belo que eu?

Frederico Salvo