21.8.11

À noite...


Só à noite somos
Claramente do universo.
De dia não....
De dia somos como as formigas,
Como os cupins ou as abelhas.
Menos harmonizados...claro.
À noite ao lançar os olhos
Sobre a via do leite,
Ao nos afogarmos pela indagação permanente
Do que será verdadeiramente isso;
Do que se esconde por trás
Das estrelas...
Nessa hora... sentimo-nos menores.
Queremos à noite
Saber o verdadeiro porquê das bombas,
Dos holocaustos,
Dos infanticídios.
Só à noite nossos corações pulsam
Em compasso com a nossa consciência.
De dia...
É o peito mecânico,
Imperceptível.
De dia a consciência está à sombra
Do sol da sobrevivência,
Da manutenção da dignidade.
À noite não...
À noite temos um encontro
Com o velho travesseiro
Que tudo sabe.
É à noite que vêm à baila
A decisão dos suicidas.
É à noite que irrompem
Os rios das lágrimas mais sentidas
E secretas.
É à noite que temos
A clara percepção da nossa pequenez
Diante da vida.
À noite sabemos exatamente
Que de nada valem os excessos,
As diferenças materiais.
À noite sentimos
O quanto somos cúmplices
Da mesmice humana,
E é à noite mesmo
Que afinamos os nossos discursos
Para justificarmos a nós mesmos.
À noite abraçamos a quem amamos
Com os braços dos desprotegidos.
À noite a criança que fomos
Grita por aconchego.
E é também à noite que,
Por tudo isso, nos é concedido
O bálsamo mais que bendito do adormecer.
Boa noite!


Frederico Salvo
*************************
Direitos efetivos sobre a obra.

13.8.11

Porque você existe


Porque você existe,
Sou mais alegre que triste.
Ando de encontro ao vento
Com passos de bandeirante,
Levando no pensamento
A pedra mais radiante:
Esse amor que em mim resiste
Triunfante.
Porque você existe.

Porque você existe,
Trago um sonho sempre em riste;
Um sol ardendo no peito
Confortando-me do frio.
Um querer consoante, perfeito;
Esse constante arrepio.
Esperança sã que insiste,
Equilibrando-se no fio;
Porque você existe.


Frederico Salvo.