26.3.11

A maré (poema musicado)

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Extraído do poema de mesmo nome, de minha autoria, publicado aqui em setembro de 2010.


És minha lua.
És Sim.
E em mim toda essa maré,
Como flutua, assim,
Em tua direção.
Todas as vagas, enfim,
Toda essa luz do leito meu
É toda tua.
És minha lua.

Um imã lá no céu
Que anuncia
Que muito além
Do meu dossel de fantasia
Existe uma atração
E a flor da água
Quer ir ao rumo teu
Por essa via.

Lua...

Lua...


poema e música: Frederico Salvo


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23.3.11

Entre a cruz e a espada



Se o que me é claro às vezes contradigo
E me coloco a agir como não penso,
Firo-me à luz desse contra-senso
Fazendo de mim o meu próprio inimigo.

Como é mordaz a métrica do pecado,
Que em sua sedução rapta a consciência
E a desnuda entre o deleite e a prudência
Ante a face do desejo protelado.

Eu me sinto entre a cruz e a espada;
A certeza frente a isso é quase nada.
Sou presa fácil à mercê desse vil laço.

Se pareço, aos teus olhos, tão confuso,
Falo-te já (Pois sei que ao erro te induzo):
Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.


Frederico Salvo

19.3.11

Soneto sobre a saudade (republicado)



Olá queridos leitores.

Especialmente volto a publicar por aqui o meu "Soneto sobre a saudade", dessa vez para prestar uma homenagem ao amigo e radialista Odair Silveira que faleceu essa semana. Odair elegeu alguns dos meus poemas para fazerem parte do seu programa. Não o conheci pessoalmente, mas deixo aqui a minha homenagem a esse amigo e também o meu desejo de sabê-lo em melhor lugar. Ressalto a grande interpretação que Odair deu a esse poema.

Música após o soneto: "Onde anda você" de Toquinho e Vinícius de Moraes, na voz de Altemar Dutra.



Quando você se vai a saudade aparece.
Implacável permeia minha existência.
E chego a pensar que é como se ela quisesse,
Por vontade própria, celebrar convivência.

Apressa-se em fazer, do meu peito, morada,
Compondo sorrateira a sua cantiga
Para fazer serenata de madrugada
E dragar, assim, minh’alma combalida.

Mas eu me aprumo e desfiro um golpe certeiro
Bem na fronte da saudade fria e malvada,
Encostando-lhe o sabre sobre a lapela.

E assim, estando em seu minuto derradeiro,
Sorri sabendo que eu não posso fazer nada,
Pois é seu rosto que está no rosto dela.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

17.3.11

Prefácio

Empenho. Amálgama da minha sorte.
Eu na toada da noite venho
Até que um sol no horizonte aporte.

E já que a única razão que tenho
É estancar o sangue desse corte
Melhor fazê-lo sem franzir o cenho,

Posto que a vida é o prefácio da morte.


Frederico Salvo

15.3.11

Poesia



A partir do momento
Em que saíste de mim,
Não és mais parte minha;
És parte do todo
E deverás ir buscar conexões
Com outras almas.


Frederico Salvo

13.3.11

O avesso das coisas


Onde houver luz existirá sombra.
Habitam juntas tristeza e alegria.
O breu da madrugada que agora assombra,
Quando alcançar o ápice será dia.

A água boa que debela a tua sede
Passeou n’alguma nuvem, evaporada.
Esse sono embalado em tua rede
Foi vigília quando veio a alvorada.

E do nada todas as coisas surgem;
Acho o avesso quando digo uma palavra.
Houve o feio quando a boca disse: _ Belo!

Pode intensa clareza ser vertigem.
Água calma poderá ser onda brava;
Como o prego tem por oposto o martelo.


Frederico Salvo

3.3.11

Não há que se dizer mais nada


O fogo que há em ti
É o mesmo que me queima.
Em mim pode agitar a alma
E atormentar os pensamentos
Em ti pode ser apenas
Uma branda chama apática.
Pode ser que em ti
Não consiga aquecer a melancolia
E nem iluminar-te os olhos,
E em mim seja calor eufórico
A brasa da minha língua,
Mas será sempre o mesmo fogo.
O mesmo que na natureza
Vai adubar a terra
Onde então a semente
Estabelecerá sua morada.

A terra que há em ti
É também a mesma que me firma.
Em mim pode ser ressequida
E devorar qualquer umidade.
Em ti pode ser fecunda
Casa de todo verde.
Pode ser que em ti
Seja estrada que encaminhe
E te encha de viço os lábios,
E em mim seja apenas deserto
A sede na minha boca,
Mas será sempre a mesma terra.
A mesma que na natureza
Vai abrigar a pedra
Onde a água cristalina
Brotará como encantada.

A pedra que há em ti
É a mesma em que me assento.
Em mim pode ser início
A base da fortaleza.
Em ti pode ser estorvo,
Lápide indesejada.
Pode ser que em ti
Seja peso sobre os ombros
Ou lhe feche as narinas,
E em mim seja solo seguro
Onde não se conhece a tristeza.
Mas será sempre a mesma pedra.
A mesma que na natureza
No âmago da sua dureza
É berço de toda água.

A água que há em ti
É a mesma que me sacia.
Em mim pode ser escassa
A fonte de todo medo.
Em ti pode ser que farte
Dádiva pura e sagrada.
Pode ser que em ti
Seja rio caudaloso
Ou mar de completa abundância,
E em mim seja ínfima gota
Inexpressiva em meu deserto.
Mas será sempre a mesma água.
A mesma que na natureza
Vai hidratar a semente
Da árvore tão esperada.

A árvore que há em mim
É a mesma que em ti aflora.
Em mim pode ser frondosa
Sombra ao meio-dia.
Em ti pode ser esquálida,
Frágil, mero caniço.
Pode ser que em ti
Seja baixa e retorcida
Ou cacto de pura ira
E em mim seja forte e frutífera
Esteio da minha rede.
Mas será sempre a mesma árvore.
A mesma que na natureza
É mais suscetível ao fogo
Quanto mais é ressecada.

E agora, se me permite,
Não há que se dizer mais nada.
Basta só entender que a vida,
Em nuances repartida,
Nunca foi fragmentada.



Frederico Salvo