14.3.10

O louco


Os gritos varavam a noite,
Ora ecoando juntamente com os latidos dos cães ao longe,
Ora perdido em meio ao roncar dos motores na avenida.
Todas as noites lá estava ele,
Soltando palavras ao vento,
Bradando palavrões contra o mundo.
Pensei na criança que ele teria sido,
Na ingenuidade que um dia também lhe pertencera
E que acabou sufocada,
Solapada pela realidade.
Pensei na fragilidade do homem diante das incertezas da vida,
Na gigantesca interrogativa que fica diante da origem e do destino.
Senti-me pequeno, esfacelado,
Procurando respostas que, conscientemente, sabia não poder encontrar.
Fechei os olhos... Suspirei...
Vasculhei o meu interior.
Havia uma coisa pulsando lá dentro.
Lembrei-me do amor.
Pensei que pudesse ser ele o conforto.
Quando dei por mim já era bem tarde
E os gritos haviam cessado.

(1984)


Frederico Salvo

2 comentários:

Sonia Parmigiano disse...

Querido Salvo,

Vim te parabenizar pelo Dia da Poesia, ler seu excelente verso e desejar uma linda semana!!!

POESIA

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

(Carlos Drummond de Andrade)

Beijos Poeta,

Reggina Moon

Sonia Schmorantz disse...

Nossas fragilidades, quem pode dizer que conhece este universo interior?
Um abraço, ótima semana